Papel do professor e da escola
O objetivo da
escola não se resume ao ensino dos conteúdos das matérias. Sua função alcança o
desenvolvimento das crianças e dos adolescentes nas diferentes dimensões da
vida.
Neste contexto, o
professor tem uma multiplicidade de funções. Ao selecionar os conteúdos do
ensino e ao fornecer ou construir conhecimentos, ele o faz de determinadas
formas e isso já caracteriza o tipo de percepção que os alunos terão de si
mesmos, da vida e dos valores.
Não é possível
negar o papel do educador no desenvolvimento de posturas e comportamentos sobre
os mais diferentes assuntos: vida social e familiar, cultura de paz ou de
violência, cidadania, ética, relacionamento sexual, uso de drogas, saúde em
geral, vida profissional e projeto de vida.
Refletir e
posicionar-se sobre a questão do uso de drogas é parte integrante desse
processo e é preciso que os professores se preparem para esta tarefa.
Entre as
instituições que têm, entre suas funções, prevenir o uso indevido de drogas
(ver Prevenção), a escola ocupa um lugar privilegiado. Em primeiro lugar porque
todas as crianças e adolescentes, por princípio, frequentam a escola e o fazem
por um grande número de horas semanais, durante vários anos. É comprovada a
influência que a escola exerce na formação das pessoas (só superada pela da
família).
Fundamentos da prevenção na escola
A prevenção deve
ser um grande processo de reflexão sobre a vida, os valores, os comportamentos
e os projetos dos alunos e não simples aulas sobre os efeitos das drogas.
O objetivo da
prevenção é auxiliar as pessoas a, bem formadas e informadas, desenvolverem a
sua capacidade de decisão para fazerem escolhas que, incluindo ou não o uso de
alguma droga, favoreçam a sua saúde e segurança ao longo da vida.
Com base neste objetivo,
três eixos orientam o trabalho de prevenção do uso indevido de drogas na
escola:
1. A estrutura da
escola
2. Ações implícitas
3. Ações explícitas
1- Estrutura da
escola
Uma escola que
cumpre seu papel de oferecer uma educação de qualidade, proporcionando um
ensino competente e dá oportunidades de escolhas e participação aos alunos,
valoriza seus valores e sua cultura estará sendo, por sua postura e
organização, uma instituição preventiva.
Entre as características dessa escola estão:
• Oferecer um clima acolhedor e afetivo
• Apresentar altas expectativas para os
alunos
• Ter parâmetros de comportamento claros e
consistentes
• Favorecer a participação, envolvimento e
responsabilidade das crianças e dos jovens nas tarefas e decisões da escola
• Desenvolver um ensino e de uma educação de
qualidade
2- Ações implícitas
São as ações dos
educadores na escola que contribuem para o desenvolvimento de habilidades
pessoais e sociais dos alunos. Não se está, neste momento, falando sobre drogas
ou sobre seus usos, mas favorecendo que os alunos tenham consciência sobre seus
comportamentos e saibam como atuar para fazer escolhas saudáveis, em qualquer
dimensão da vida.
Entre as
habilidades a serem desenvolvidas estão:
• Capacidade de tomar decisões
• Fortalecimento da autoestima
• Habilidade para resolver problemas
• Desenvolvimento da capacidade de reflexão
• Estabelecimento e manutenção de vínculos
interpessoais
• Capacidade de manejar emoções próprias
• Construção de um projeto de vida
3- Ações explícitas
Além de
constituir-se como uma entidade preventiva por sua própria estrutura e forma
coletiva de se organizar e pelo desenvolvimento de habilidades, para que a
prevenção seja efetiva é necessário complementar o trabalho com referências e
informações explícitas sobre as drogas, suas características, efeitos, riscos e
usos.
Ações explícitas incluem abordar com os alunos temas
como:
• Conhecimento sobre os tipos de drogas e
seus efeitos
• Reflexão sobre as diferentes relações com
as drogas.
• Informação e reflexão sobre os padrões de
consumo
• Reflexão sobre formas de reduzir riscos e
danos associados ao consumo de drogas
• Conhecimento da legislação e das políticas
• Reflexão sobre as relações entre a
sexualidade e o uso de drogas
• Descoberta de recursos da comunidade para
atendimento a usuários e dependentes
• Informações sobre como agir nas
emergências
Princípios de prevenção na escola
1. Integração no
currículo da escola – a prevenção deve ser realizada, prioritariamente, pelos
próprios educadores da escola, dentro do seu trabalho.
2. Desenvolvimento
ao longo da escolaridade – a prevenção não deve ser algo pontual, desenvolvido
quando surge um problema, mas em longo prazo, em todas as séries.
3. Trabalho
coletivo – o trabalho preventivo não é de uma ou duas pessoas, mas do conjunto
dos professores, coordenadores, diretores, funcionários, cada um contribuindo
com sua especialidade e na sua função.
4. Envolvimento de
toda a comunidade – as ações devem ter como objetivo, além dos alunos, os pais
e os participantes da comunidade interna e externa da escola.
5. Diminuir fatores
de risco e aumentar os de proteção – as bases da prevenção devem levar em conta
as características próprias daquela realidade.
6. Ênfase nas
drogas de maior risco de consumo na comunidade – devem ser discutidas tanto as
drogas lícitas como as ilícitas, principalmente as mais consumidas na realidade
próxima (álcool, cigarro, inalantes e outras).
7. Métodos
interativos – a prevenção deve incorporar atividades diversificadas e dar
prioridade à participação dos alunos.
8. Desenvolvimento
de habilidades – entre as metas deve estar o desenvolvimento da capacidade de
enfrentar e resolver problemas, de tomar decisões, assertividade e outras
habilidades sociais.
Algumas orientações práticas para fazer um trabalho de
prevenção
» Disponha os
alunos em círculos para fazer discussões abertas. Evite sermões, palestras e
discursos. Ouça suas opiniões, avalie suas ideias e reoriente o que estiver
distorcido.
» Peça opiniões
anônimas por escrito, por exemplo, em tirinhas de papel, sobre as razões para o
uso de drogas e as razões para não usá-las e depois discuta-as no grupo.
» Traga (ou levante
com os alunos) situações-problema sobre o abuso de álcool ou outras drogas e
promova dramatizações, discussões e análises dos comportamentos e de suas
consequências.
» Organize
atividades em que os alunos possam desenvolver as habilidades de tomar
decisões, posicionar-se, resolver problemas, como por exemplo “saber recusar um
cigarro quando não quer fumar” ou “limitar o número de doses de bebida numa
festa”.
» Promova jogos e
dinâmicas nas quais os alunos possam testar seus conhecimentos sobre o assunto
e incorporar novas informações corretas.
» Desenvolva a
motivação para que os alunos construam seus conhecimentos e façam pesquisas de
aspectos do assunto de seu maior interesse.
» Estimule a
reflexão sobre os comportamentos dos alunos, relacionados com a saúde (e o uso
de drogas), pontuando com informações e orientações.
» Estabeleça trocas
entre os alunos, permitindo a aprendizagem por meio de comunicações entre os
iguais.
» Procure integrar
as discussões sobre o uso de drogas com os conhecimentos e atividades de
diferentes disciplinas do currículo, por exemplo, um livro de literatura, uma
aula de educação física, um conteúdo de história ou ciências, alguns cálculos
ou problemas de matemática.
» Associe as
atividades de prevenção do uso indevido de drogas com outros comportamentos de
promoção à saúde, como os relacionados à alimentação, à sexualidade, ao meio
ambiente, às relações humanas, ao enfrentamento do stress, aos cuidados com o
corpo, entre outros.
» Dê prioridade à
discussão sobre as drogas mais comuns de uso entre adolescente: álcool, tabaco,
inalantes e maconha.
» Realize
atividades que mostrem a necessidade de retardar o máximo possível o uso das
drogas lícitas, ressaltando a legislação que proíbe a venda de bebidas e
cigarros aos adolescentes e as possibilidades de, ao beber, fazê-lo
moderadamente, evitando riscos.
» Enriqueça as
aulas com a discussão de filmes, vídeos, visitas a sites, leituras de textos e
livros.
» Utilize notícias
da mídia para ilustrar os temas desenvolvidos, tendo o cuidado para fazer uma
crítica às distorções que muitas vezes estão presentes, especialmente o
preconceito com os usuários, a demonização das drogas, o “esquecimento” das
drogas mais usadas como o álcool e o cigarro.
» Busque parcerias
com outras pessoas e instituições da comunidade, lembrando sempre que o
trabalho de prevenção é mais eficaz quando feito pelas pessoas de dentro da
escola e com métodos interativos.
» Auxilie os alunos
a desenvolverem posturas críticas em relação ao uso de drogas, habilidades
sociais para resistir ao uso indevido e discuta maneiras concretas de agir
nestas ocasiões.
» Procure não
trazer pessoas de fora para a discussão dos temas, principalmente ex-usuários,
pois os alunos tendem a achar que “isto não vai acontecer comigo” ou que “se
ele conseguiu sair, eu também consigo”.
» Atualize-se,
informe-se, procure enfrentar seus preconceitos e dúvidas, não tenha receio de
buscar ajuda e, principalmente, divida o trabalho de prevenção com seus colegas.
Estes dois tópicos foram extraídos de
Albertani, Helena: Drogas e Prevenção – Conceitos
básicos,
SindepolBrasil, 2066
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