domingo, 29 de junho de 2014

A escola e o uso de drogas



Papel do professor e da escola

O objetivo da escola não se resume ao ensino dos conteúdos das matérias. Sua função alcança o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes nas diferentes dimensões da vida.
Neste contexto, o professor tem uma multiplicidade de funções. Ao selecionar os conteúdos do ensino e ao fornecer ou construir conhecimentos, ele o faz de determinadas formas e isso já caracteriza o tipo de percepção que os alunos terão de si mesmos, da vida e dos valores.
Não é possível negar o papel do educador no desenvolvimento de posturas e comportamentos sobre os mais diferentes assuntos: vida social e familiar, cultura de paz ou de violência, cidadania, ética, relacionamento sexual, uso de drogas, saúde em geral, vida profissional e projeto de vida.
Refletir e posicionar-se sobre a questão do uso de drogas é parte integrante desse processo e é preciso que os professores se preparem para esta tarefa.
Entre as instituições que têm, entre suas funções, prevenir o uso indevido de drogas (ver Prevenção), a escola ocupa um lugar privilegiado. Em primeiro lugar porque todas as crianças e adolescentes, por princípio, frequentam a escola e o fazem por um grande número de horas semanais, durante vários anos. É comprovada a influência que a escola exerce na formação das pessoas (só superada pela da família).

Fundamentos da prevenção na escola

A prevenção deve ser um grande processo de reflexão sobre a vida, os valores, os comportamentos e os projetos dos alunos e não simples aulas sobre os efeitos das drogas.

O objetivo da prevenção é auxiliar as pessoas a, bem formadas e informadas, desenvolverem a sua capacidade de decisão para fazerem escolhas que, incluindo ou não o uso de alguma droga, favoreçam a sua saúde e segurança ao longo da vida.

Com base neste objetivo, três eixos orientam o trabalho de prevenção do uso indevido de drogas na escola:

1. A estrutura da escola

2. Ações implícitas

3. Ações explícitas

1- Estrutura da escola

Uma escola que cumpre seu papel de oferecer uma educação de qualidade, proporcionando um ensino competente e dá oportunidades de escolhas e participação aos alunos, valoriza seus valores e sua cultura estará sendo, por sua postura e organização, uma instituição preventiva.

Entre as características dessa escola estão:

•      Oferecer um clima acolhedor e afetivo

•      Apresentar altas expectativas para os alunos

•      Ter parâmetros de comportamento claros e consistentes

•      Favorecer a participação, envolvimento e responsabilidade das crianças e dos jovens nas tarefas e decisões da escola

•      Desenvolver um ensino e de uma educação de qualidade

2- Ações implícitas

São as ações dos educadores na escola que contribuem para o desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais dos alunos. Não se está, neste momento, falando sobre drogas ou sobre seus usos, mas favorecendo que os alunos tenham consciência sobre seus comportamentos e saibam como atuar para fazer escolhas saudáveis, em qualquer dimensão da vida.

Entre as habilidades a serem desenvolvidas estão:

•      Capacidade de tomar decisões

•      Fortalecimento da autoestima

•      Habilidade para resolver problemas

•      Desenvolvimento da capacidade de reflexão

•      Estabelecimento e manutenção de vínculos interpessoais

•      Capacidade de manejar emoções próprias

•      Construção de um projeto de vida

3-     Ações explícitas

Além de constituir-se como uma entidade preventiva por sua própria estrutura e forma coletiva de se organizar e pelo desenvolvimento de habilidades, para que a prevenção seja efetiva é necessário complementar o trabalho com referências e informações explícitas sobre as drogas, suas características, efeitos, riscos e usos.

Ações explícitas incluem abordar com os alunos temas como:

•      Conhecimento sobre os tipos de drogas e seus efeitos

•      Reflexão sobre as diferentes relações com as drogas.

•      Informação e reflexão sobre os padrões de consumo

•      Reflexão sobre formas de reduzir riscos e danos associados ao consumo de drogas

•      Conhecimento da legislação e das políticas

•      Reflexão sobre as relações entre a sexualidade e o uso de drogas

•      Descoberta de recursos da comunidade para atendimento a usuários e dependentes

•      Informações sobre como agir nas emergências

Princípios de prevenção na escola

1. Integração no currículo da escola – a prevenção deve ser realizada, prioritariamente, pelos próprios educadores da escola, dentro do seu trabalho.

2. Desenvolvimento ao longo da escolaridade – a prevenção não deve ser algo pontual, desenvolvido quando surge um problema, mas em longo prazo, em todas as séries.

3. Trabalho coletivo – o trabalho preventivo não é de uma ou duas pessoas, mas do conjunto dos professores, coordenadores, diretores, funcionários, cada um contribuindo com sua especialidade e na sua função.

4. Envolvimento de toda a comunidade – as ações devem ter como objetivo, além dos alunos, os pais e os participantes da comunidade interna e externa da escola.

5. Diminuir fatores de risco e aumentar os de proteção – as bases da prevenção devem levar em conta as características próprias daquela realidade.

6. Ênfase nas drogas de maior risco de consumo na comunidade – devem ser discutidas tanto as drogas lícitas como as ilícitas, principalmente as mais consumidas na realidade próxima (álcool, cigarro, inalantes e outras).

7. Métodos interativos – a prevenção deve incorporar atividades diversificadas e dar prioridade à participação dos alunos.

8. Desenvolvimento de habilidades – entre as metas deve estar o desenvolvimento da capacidade de enfrentar e resolver problemas, de tomar decisões, assertividade e outras habilidades sociais.

Algumas orientações práticas para fazer um trabalho de prevenção

» Disponha os alunos em círculos para fazer discussões abertas. Evite sermões, palestras e discursos. Ouça suas opiniões, avalie suas ideias e reoriente o que estiver distorcido.

» Peça opiniões anônimas por escrito, por exemplo, em tirinhas de papel, sobre as razões para o uso de drogas e as razões para não usá-las e depois discuta-as no grupo.

» Traga (ou levante com os alunos) situações-problema sobre o abuso de álcool ou outras drogas e promova dramatizações, discussões e análises dos comportamentos e de suas consequências.

» Organize atividades em que os alunos possam desenvolver as habilidades de tomar decisões, posicionar-se, resolver problemas, como por exemplo “saber recusar um cigarro quando não quer fumar” ou “limitar o número de doses de bebida numa festa”.

» Promova jogos e dinâmicas nas quais os alunos possam testar seus conhecimentos sobre o assunto e incorporar novas informações corretas.

» Desenvolva a motivação para que os alunos construam seus conhecimentos e façam pesquisas de aspectos do assunto de seu maior interesse.

» Estimule a reflexão sobre os comportamentos dos alunos, relacionados com a saúde (e o uso de drogas), pontuando com informações e orientações.

» Estabeleça trocas entre os alunos, permitindo a aprendizagem por meio de comunicações entre os iguais.

» Procure integrar as discussões sobre o uso de drogas com os conhecimentos e atividades de diferentes disciplinas do currículo, por exemplo, um livro de literatura, uma aula de educação física, um conteúdo de história ou ciências, alguns cálculos ou problemas de matemática.

» Associe as atividades de prevenção do uso indevido de drogas com outros comportamentos de promoção à saúde, como os relacionados à alimentação, à sexualidade, ao meio ambiente, às relações humanas, ao enfrentamento do stress, aos cuidados com o corpo, entre outros.

» Dê prioridade à discussão sobre as drogas mais comuns de uso entre adolescente: álcool, tabaco, inalantes e maconha.

» Realize atividades que mostrem a necessidade de retardar o máximo possível o uso das drogas lícitas, ressaltando a legislação que proíbe a venda de bebidas e cigarros aos adolescentes e as possibilidades de, ao beber, fazê-lo moderadamente, evitando riscos.

» Enriqueça as aulas com a discussão de filmes, vídeos, visitas a sites, leituras de textos e livros.

» Utilize notícias da mídia para ilustrar os temas desenvolvidos, tendo o cuidado para fazer uma crítica às distorções que muitas vezes estão presentes, especialmente o preconceito com os usuários, a demonização das drogas, o “esquecimento” das drogas mais usadas como o álcool e o cigarro.

» Busque parcerias com outras pessoas e instituições da comunidade, lembrando sempre que o trabalho de prevenção é mais eficaz quando feito pelas pessoas de dentro da escola e com métodos interativos.

» Auxilie os alunos a desenvolverem posturas críticas em relação ao uso de drogas, habilidades sociais para resistir ao uso indevido e discuta maneiras concretas de agir nestas ocasiões.

» Procure não trazer pessoas de fora para a discussão dos temas, principalmente ex-usuários, pois os alunos tendem a achar que “isto não vai acontecer comigo” ou que “se ele conseguiu sair, eu também consigo”.

» Atualize-se, informe-se, procure enfrentar seus preconceitos e dúvidas, não tenha receio de buscar ajuda e, principalmente, divida o trabalho de prevenção com seus colegas.

Estes dois tópicos foram extraídos de
Albertani, Helena: Drogas e Prevenção – Conceitos básicos,

SindepolBrasil, 2066

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